Vítimas ou Algozes da Própria “Sorte”

É na cidadania que se deve nutrir a sua razão de Ser, garantir o direito de interceder na direção dos negócios públicos. Sendo que o que se vê, é uma sociedade com cada vez mais aversão à política, desacreditada, mas igualmente descompromissada com seus deveres. Uma dualidade e antagonismo entre o querer e o fazer, o desejo da “sociedade civil” e a falta de apropriação do que é seu por direito. É para mim, exatamente aqui, que o assunto se torna complicado. Defronto-me com um poder público corrupto e ineficiente, de contrapartida uma sociedade omissa, capitalista e egoísta a uma realidade decorrente do descaso. A violência prolifera, temos uma polícia despreparada, mal remunerada, desconstituída de princípios éticos e valores morais. Uma criminalidade fruto da necessidade, ignorância, abandono e da ausência de estruturas formadoras de bases.

Vivemos em um país que investe em segurança e não em escolas, uma sociedade que prefere aumentar muros e blindar carros, a promover reivindicações políticas e ações sociais. Acredito na frase em que diz: colhemos os frutos do que plantamos – seja na indiferença com o próximo ou elegendo crápulas. Com a democracia ganhamos o direito de escolha, mas mesmo assim não mudamos nossa atitude perante a alienação. Vivemos em um país onde a moral inexiste, o certo virou o errado, ser esperto é se dá bem em cima de alguém, besta é ser enrolado, onde não existem culpados, a melhor defesa é sempre o ataque.

Encontramo-nos em um mundo cada vez mais competitivo e individualista, cada um por si e Deus contra todos. Tornamo-nos frios perante a desgraça que assola o país, onde tudo se transformou em “normal”. Mendigo é comum e assalto trivial. Quem é que nunca foi assaltado? E se não foi! Que planeta habita? E assim levamos, com o tal chamado jeitinho brasileiro, que se molda e se adapta ao que é bom, mas também ao que é ruim, desde que não nos tire da nossa zona de conforto. Mas há quem diga que suportamos calados? Não, JAMAIS, nós julgamos e criticamos, vemos uma pessoa vitima da violência sagrando no chão por ter sido esfaqueada e exclamamos: Nossa! Como é que pode! Ninguém faz nada para socorrê-la! Sem ao menos nos considerarmos alguém. Isso é fato, é mais fácil apontar do que ser apontado, julgar do que ser julgado, encontrar problemas do que arranjar soluções. Habitamos um país de faz de conta, onde ninguém faz nada e todos fazem de conta.

O que pensar dos direitos humanos? Melhor não pensar, para não nos atribuirmos culpa por nossas ações, e principalmente por nossas omissões. Vejo diariamente relatos advindos da mídia, que garantem a audiência transmitindo calamidades: violência e morte, estupro e medo, corpos dilacerados lançados aos cães e carros submersos ocultando cadáveres. Crimes com requinte de crueldade, e um direito humano que por vezes, penso eu, atender e defender aos “desumanos” (vítimas ou algozes?). As falhas existem, sistemas públicos falidos, instituições precárias, mas o que pensar, quando a maldade provém de gente instruída, onde a perversidade não se esconde ou se defende por detrás da falta de “berço” e da dificuldade.

Hoje (04/08/12) liguei a televisão e o noticiário trazia casos de policiais a serem executados por bandidos. Existem ONGs que defendem os transgressores no que diz respeito à abordagem e ao maltrato por parte das autoridades, mas quem é que defende os policiais sobre os atentados sofridos, sendo estes detentores de um mal preparo e baixíssimo salário. O suborno acaba sendo, revolta, medo ou falta de caráter? Prisioneiros que queimam colchões e os tem no dia seguinte de volta por não poderem dormir no chão. E quem é que paga o prejuízo? Mas de quem é a culpa? Quem é que permite a reincidência? E onde fica aqui: o sofrer as consequências por suas ações? Por que será que se sabe que é ruim a reclusão, mas mesmo assim cometem-se as transgressões. E nós, onde nos encaixamos nessa realidade?

Realmente é difícil conceber o que é certo ou errado e de que lado ficar. O que faria eu? Infelizmente não sei. Só o contexto e as circunstâncias é quem podem falar por mim. Daí entra a polêmica em que protagonizo o duelo do ego versus a razão, ao me deparar com o questionamento do OU: Não somos corruptos, mas somos corruptíveis. Quem é de nós, que condena um desvio de verba feito na política, mas que nunca teve um gato feito em sua casa? Ou que nunca no transito excedeu o limite da velocidade máxima permitida e diminuiu perante um foto sensor? Ou que nunca cometeu algum outro tipo de violação, que possa realmente julgar e condenar alguém? (furar fila – estacionar vaga especial – silenciar troco errado – etc.) Ou seja, quem é o verdadeiro culpado? Ou porque não dizer o culpado maior? O que fazer ou a quem defender? Criminosos ou vítimas? Ou porque não dizer vítimas criminosas.

Não sei se me faço entender, porém não precisa, pois eu mesmo não me entendo. Não entendo o mundo nem as pessoas, que reclamam com “razão”, mas não agem com princípios e valores que lhes deem credibilidade. Sujos falando dos maus lavados, onde no mesmo banho escorre lama para todo lado. Hoje me concedo vulnerável, desse modo, procuro fazer mais e falar menos. Temo o ditado que diz: “Boca fala, boca paga”. Ainda assim, me resta a esperança de uma sociedade melhor e mais justa, onde o primeiro passo clama pela nossa mudança. Não nos cabe condenar, ou mesmo julgar intenções, para ações desonestas o que vale são atitudes enérgicas. Também estou desacreditado da política, muito embora esta seja responsável pelo nosso bem estar e fruto de nossas escolhas.

Cansado de promessas, creio que para votar, o mínimo que devemos é nos conscientizar, não agir na política da causa própria, mas na providência do coletivo que engloba a realidade como um todo. Extremos distantes, onde as pontas se cruzam na violência urbana, em que os que não têm, tomam de quem os detém. Reféns do abandono sequestram vidas, vítimas da indiferença exterminam a existência, alimentados pela ignorância do amor, não se comprazem a uma sensibilidade que não os comporta. Cada um só dá o que têm, sendo que o Ter depende do Ser, mas a quem seja tratado como fantasma social, este só vai existir no mundo sobrenatural, logo não se pode Ser uma vez que não se Existe. A falta de cuidados – os renegamos – agora se quer cobrar e julgar sem vestir a carapuça da omissão. Mais uma vez surge a pergunta que não quer calar: Vítimas ou algozes da própria “sorte”? Quem é refém de quem? Quem são os culpados? O que fazer para essa realidade mudar?

A melhor saída é perceber que na política, cada caso é um caso, nem todos são degenerados, ainda tem como escolher aquele que represente “bem” o poder. Apesar de toda aliança desastrada, vamos crer que a cada nova etapa uma nova medida pode ser tomada. Quem nunca errou que atire a primeira pedra, mas não em mim claro, pois não posso CORRER. Mesmo assim, temos que compreender que julgamos, mas passamos pelo mesmo crivo do julgamento humano, detentores de conceitos e preconceitos, qualidades e defeitos, filhos de uma cultura e educados por uma nação que traz aspectos sócio-históricos-culturais. Somos pertencentes ao clã dos imperfeitos, cheios de dogmas e paradigmas que passam pelo julgo das diversas interpretações e concepções. Donos de um livre arbítrio que se estende as escolhas virtuosas, tanto quanto as defeituosas. Enfim, estamos à mercê de quem? E quem somos nós?

Quem somos é uma descoberta derivada da reflexão, do autoconhecimento e da reforma intima, que nos contempla com a moral e o bom senso. Estes se fazem necessários para que hajam mudanças concisas e relevantes, de acordo com a realidade de todas as partes. A nossa “consciência” é e sempre será nossa fonte norteadora. Ninguém muda o mundo se não mudar a si mesmo. Exemplos valem mais do que palavras, além de que boa conduta – instigam outras vidas – modificam lares e amolecem corações. Que cada um faça a sua parte, acreditando na dimensão do seu ser. Que não deixe de cobrar ou criticar, mas que aja e desenvolva o solucionar. Lute com garra, sempre tendo em vista que luta pelo que é seu.

Que seja o nosso bem estar, o bem estar do próximo que pertence à sociedade com a qual interagimos. O que precisamos é estar prontos para agir com firmeza e sensatez, compreendendo que as violações dos Direitos Humanos, atingem muito mais aqueles que são excluídos socialmente e que pertencem à minoria étnica, religiosa e sexual. Nenhuma conjectura constitui regra, até porque, como se sabe, desonestidade não pertence a uma classe, mas a um grau elevado de falta de caráter, onde todos nós somos culpados e inocentes até que se prove o contrário.

Esse ano é de eleições, votem com consciência, mesmo com a falta de boas opções.

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